Lula ou Bolsonaro?


Por Saulo Medeiros

O país está na expectativa do debate desta noite entre os presidenciáveis na TV Globo. O confronto direto entre os candidatos pode levar a fração ainda indecisa dos 156,4 milhões de eleitores brasileiros a mudar de opinião na reta final e escolher, já neste domingo, o presidente da República que vai comandar o Brasil pelos próximos quatro anos, a partir de 1º de janeiro de 2023. Ainda que o desfecho seja adiado para 30 de outubro, a verdade é que, com Lula ou Bolsonaro, nada vai mudar em profundidade na vida brasileira.

No plano político, os mesmos bilionários que controlam há décadas a vida brasileira e os meios de comunicação vão continuar mandando. Nas máfias, pede-se “bençãos” aos “novos padrinhos”. No Brasil, ganharam espaço as alianças com pastores evangélicos e chefes de milícias, que controlam importantes redutos eleitorais. Outra parte dos aglomerados urbanos mais pobres está sob domínio do tráfico.

No plano estrutural, salvo a enorme diferença de empatia para com os mais pobres e a questão social historicamente demonstrada pelo ex-presidente Lula, em comparação à insensibilidade social e humana de Jair Bolsonaro, como ficou patente e de modo estarrecedor na pandemia da Covid-19, que ceifou a vida de mais de 685 mil brasileiros, não se pode esperar muita mudança. Bolsonaro, que sempre militou nos partidos do Centrão, concorre à reeleição com amplo apoio do Centrão. No passado, cooptado por Lula no mensalão.

Na economia, o oligopólio bancário e a baixa concorrência em diversos setores - diante da inação das agências reguladoras que não arbitram os conflitos entre os agentes econômicos e muito menos protegem os consumidores, a política econômica de juros altos, em meio ao quadro fiscal incerto, vai continuar privilegiando no horizonte imediato - pelo menos até o fim de 2023 - os banqueiros, o caixa das grandes empresas e os cerca de 100 mil rentistas que lucram com aplicações financeiras. Não se espere que Lula vá mudar isso. Ao contrário, ele é um dos causadores.

Pouco se ouviu dos dois líderes das pesquisas sobre as maiores aflições das famílias brasileiras: a fome, o desemprego e o endividamento a juros escorchantes que já ameaça quase 67 milhões de brasileiros. Bolsonaro gaba-se de ter reduzido o preço do litro da gasolina. Melhor seria reduzir o litro de leite, que custa 30% a mais. Em 2018, quase 63 milhões de brasileiros tinham dívidas e contas em atraso. Na época, o candidato Ciro Gomes defendeu o uso dos bancos públicos para renegociar as dívidas a juros módicos e prazos elásticos para devolver poder de compra às famílias. Bolsonaro se gaba do PIX, concebido e iniciado pelo Banco Central no governo Temer. Mas nada fez para acudir os devedores em quatro anos de mandato.

Lula, agora, incorporou a ideia de Ciro a seu programa de governo, buscando também atrair seus eleitores. Jair Bolsonaro, na busca desesperada pela reeleição, quer ampliar ainda mais o endividamento dos brasileiros, criando empréstimos aos beneficiários do Auxílio Brasil, cujo pagamento do atual valor de R$ 600 mensais só está garantido até 31 de dezembro, como todo o pacote de benesses eleitorais temporárias. Diante do enorme risco, os bancos mais responsáveis, incluindo o Banco do Brasil, evitam entrar nessa área.

O nível do debate político é decepcionante. Não há mudança alguma. A polarização continuará dividindo o país. Não espere de Lula e Bolsonaro, nada de bom para o Brasil.


  

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